Silene Borges
@Quarto_Poder
A poeira da transição ainda não baixou sobre o Palácio do Povo, em Palmas, mas o cheio no ar é estranhamente familiar. A saída de Wanderlei Barbosa e a entrada de Laurez Moreira no governo do Tocantins têm aquele sabor de déjà vu que a política brasileira conhece tão bem. A pergunta que paira, mais do que nos corredores do poder, nas ruas de Araguaína, de Gurupi, no comércio de Porto Nacional, é simples e direta: mudou tudo ou ficou tudo na mesma?
À primeira vista, a cena é de ruptura. Um nome sai, outro entra. Novos assessores circulam com a urgência de quem precisa se achar nos corredores. Novas assinaturas começam a aparecer nos ofícios. Há um discurso de “transição técnica” e “continuidade dos trabalhos”, é claro, um mantra recitado para acalmar os mercados e as bancadas. Mas nos bastidores, a movimentação é a de sempre: a coreografia minuciosa da troca de favores, a redistribuição de cargos como moeda de barganha, o sussurro de que algumas portas se fecharam para que outras, talvez as mesmas de sempre por trás de novas fisionomias, se abrissem.
O governador afastado, Wanderlei Barbosa, deixa um rastro de obras inacabadas e promessas cujo prazo de validade venceu com o seu mandato. Seu interino, Laurez Moreira, chega com a missão hercúlea de ser, simultaneamente, uma página virada e a garantia de que o livro não será fechado. É um equilíbrio delicado. Ele promete eficiência e pulso firme, mas a pergunta que não quer calar é: firme contra quem? Contra as velhas estruturas que sustentam o poder, ou a serviço delas?
Os problemas crônicos do estado – a saúde pública definhando em UPAs superlotadas, a educação à míngua, a infraestrutura que emperra o agronegócio que sustenta o PIB local – permanecem ali, impassíveis, como uma paisagem que não se altera com a troca do quadro na parede do gabinete. A sensação para o cidadão comum é a de assistir a uma peça de teatro onde os atores trocam de figurino, o cenário gira, mas o enredo permanece tragicamente o mesmo. O protagonista mudou, mas o roteiro ainda é escrito pelos mesmos autores.
Há, é claro, uma mudança de estilo, de marketing. Cada gestor tem sua forma de se comunicar, suas prioridades de imagem. Mas a substância, o núcleo duro das decisões que realmente impactam a vida das pessoas, parece navegar em águas estagnadas. Os mesmos grupos econômicos continuam a ser ouvidos, as mesmas pressões políticas continuam a moldar o orçamento, a mesma máquina pública, pesada e emperrada, continua a funcionar (ou a não funcionar) com sua lógica própria.
A verdade é que, em um sistema onde a política é mais sobre perpetuação do que sobre transformação, trocar o condutor do ônibus não significa, necessariamente, mudar o destino da viagem. Pode significar apenas que um novo motorista está ao volante, mas o combustível é o mesmo, o mapa é o mesmo e os passageiros nos assentos traseiros continuam a ser os últimos a saber para onde, de fato, estão indo.
Enquanto isso, do lado de fora do Palácio, a vida real segue seu curso, imune aos comunicados oficiais e às poses para a fotografia. O povo, esse sim, espera por uma mudança que seja mais do que nominal, mais do que a simples dança das cadeiras em um salão abafado. Espera por um gesto concreto que quebre o ciclo e prove que, desta vez, a mudança não é apenas de nome, mas de rumo. Até lá, ficou tudo na mesma, só que pior, porque a esperança, mais uma vez, foi posta na geladeira.

















